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Um Douro diferente

Como a irreverência dos Douro Boys ajudou a mudar a imagem da mais tradicional região vitivinícola portuguesa


Por: Arnaldo Grizzo e Christian Burgos





Pedro Lobo
Talvez não haja pior experiência - no âmbito da música - do que ir a um show de jazz, que é um ritmo que prima pela excelência dos seus instrumentistas e intérpretes em uma harmonia singular, e perceber que não há sincronia apesar da boa execução dos instrumentos e de um vocal bem afinado. Em um estilo que prima pela técnica e pela arte da improvisação, é de doer os ouvidos quando os músicos não estão coordenados e, por exemplo, o saxofonista começa a solar ao mesmo tempo que o pianista, ou então o baterista dá seus rompantes enquanto o cantor tenta seus vocalizes e o baixista também se anima. Enfim, em um bom show de jazz, essa sintonia entre os integrantes da banda é fundamental.
Quem observa os Douro Boys - não, não são uma banda portuguesa - isoladamente pode até pensar que a junção desses cinco elementos tão distintos não seria muito promissora. Eles são um grupo de cinco (proprietários e enólogos-proprietários) que representam as casas Niepoort, Quinta do Crasto, Quinta do Vale D. Maria, Quinta do Vale Meão e Quinta do Vallado, organizações com tradição centenária na vitivinicultura duriense - representantes das diferentes sub-regiões do Douro (Cima-Corgo, Baixo-Corgo e Douro Superior).

"Nosso trabalho tem sido importante não só para nós, para o Douro, mas para Portugal. O objetivo é levar uma imagem diferente do Douro"

divulgação
Apesar das diferenças entre si, já são nove anos de sucesso levando a bandeira do Douro mundo afora. Mas não o Douro a que o mundo do vinho estava acostumado, com a pompa e sisudez do aristocrático Vinho do Porto, e sim com uma versão jovial e tida como revolucionária no momento em que esses amigos uniram-se para apresentá-lo: um Douro de vinhos tranquilos - que sempre foram produzidos por quem fazia o nobre Vinho do Porto, mas - que destinava-se, em grande parte, ao consumo do produtor e não a brilhar no mercado mundial. Foi com os Douro Boys que a região no nordeste de Portugal passou a ser reconhecida pela excelência global de seus vinhos e não somente pelos fortificados.

Da renovação a um novo establishment 
Os Douro Boys surgiram em 2003, mas o movimento de renovação da imagem do vinho duriense vem desde a década de 1990, quando os cinco integrantes do grupo passaram a dar as cartas em suas empresas. Cristiano Van Zeller, da Quinta Vale D. Maria, já possuía diversos laços de família e amizade com outros importantes produtores do Douro, como Francisco Olazabal, da Quinta do Vale Meão, Tomás Roquette, da Quinta do Crasto, Francisco Ferreira, da Quinta do Vallado, e Dirk Niepoort.

Niepoort sempre foi tido como um jovem com ideias inflamáveis em um mundo muito tradicional e que enfrentou resistências em sua própria família para apostar nos vinhos tranquilos de alta qualidade. Em seus encontros para degustar, conversar e se divertir (estão sempre um a tirar sarro do outro), esses amigos perceberam que estavam em um movimento sinérgico em torno dos vinhos de mesa (como os portugueses chamam seus vinhos finos tranquilos) no Douro e que essa união poderia trazer maior notoriedade à região. "Nosso sucesso é o sucesso do Douro", garante Francisco Olazabal, que completa: "Muitas vezes não pensamos em nós mesmos, mas no Douro". E Dirk Niepoort vem em seguida: "Esse trabalho dos Douro Boys tem sido extremamente importante não só para nós, para o Douro, mas para Portugal. O objetivo não é só venda. O objetivo é levar uma imagem diferente do Douro. E todos ganham com isso".
Tomás Roquette insiste nesse tópico e diz que "o que tem faltado aos portugueses é que todos deem as mãos e promovam, em primeiro lugar, Portugal, como um país vinícola único - com as regiões demarcadas completamente diferentes, com uma gastronomia espetacular associada a cada uma delas - e depois promovam a sua marca. É isso que fizeram outros países como Chile, Espanha etc". Ele resume seu pensamento com a frase: "É ruim quando há apenas três vinhos portugueses em uma carta em Nova York, e 20 espanhóis. Quanto mais vinhos portugueses estiverem numa carta de vinhos, mais chance de escolherem o meu".

"O que tem faltado aos portugueses é que todos deem as mãos e promovam, em primeiro lugar, Portugal, como um país vinícola único"

Com o tempo, eles ajudaram sobremaneira a promover o Douro como um todo e atualmente os vinhos tranquilos daquela região têm sido os de maior pontuação nas publicações especializadas. "Temos, hoje, claramente uma grande responsabilidade sobre nossos ombros", afirma Roquette, atestando que a marca "Douro Boys" se tornou um case de marketing a ser estudado ("Fomos convidados para fóruns e teses de mestrado", conta). Um dos estudos mostra que os cinco membros aumentaram, conjuntamente, seus hectares e sua produção em 119% e 400%, respectivamente, desde 2002. Dessa forma, hoje, com todo o sucesso do grupo e de seus vinhos, é difícil entender que eles representem a revolução e não o alto padrão de mercado que um dia ajudaram a criar e estabelecer.

fotos: Clara Asarian/Estúdio Gastronômico
Em evento exclusivo, ADEGA conversou com João Ferreira Álvares Ribeiro (Quinta do Vallado), Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão), Dirk Niepoort, Joana Van Zeller (Quinta Vale D. Maria) e Tomás Roquette (Quinta do Crasto) e provou 10 de seus principais vinhos

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